10.24.2011

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10.20.2011

Escola da Velocidade de H. Berens

Escola da Velocidade
A partir da composição Bach/Bártok de 2001 comecei a experimentar colagens de materiais históricos dissonantes através da sobreposição de duas linhas melódicas distintas: a da mão direita, que foi formada pela escala pentatônica nordestina colada à música húngara de Bella Bártok. E a segunda linha melódica, da mão esquerda foi formada pela tríade do acorde em dó menor retirada de um dos acordes da Invenção a duas vozes de Bach. A partir da partitura (Bach/Bártok) surgiu a ideia de fazer colagens e intervenções em outras partituras como a da Escola da Velocidade de H. Berens.
A partitura de H.Berens é um exercício de piano para concertistas do 1º ano do ciclo técnico do Conservatório Nacional Brasileiro. Na Escola da Velocidade fui colando pequenos fragmentos de papéis recortados como o projeto do Plano Piloto de Brasília de Lúcio Costa. Colei também pequenos círculos pretos que criavam uma intervenção na execução e a transformaram em novas experiências sonoras e visuais, pois os círculos pretos se assemelham ao formato das notas musicais e são como pequenas ilhas sonoras.
Na Escola da Velocidade de H.Berens, a primeira página tem a colagem do Plano Piloto de Brasília desenhado à mão. Existe um jogo nos doze movimentos da música: a Praça dos três poderes corresponderia ao primeiro movimento da música. A Esplanada dos ministérios corresponderia ao segundo movimento, a Catedral ao terceiro movimento e o Setor Cultural ao quarto movimento. O quinto movimento ao Centro de diversões, o sexto movimento ao setor de bancos e escritórios, o sétimo movimento ao Setor Comercial. O oitavo setor aos Hotéis, o nono movimento a torre emissora rádio GVT, o décimo setor corresponderia ao setor esportivo, a décima primeira à Praça municipal, o décimo segundo movimento aos Quartéis, o décimo terceiro corresponde à Estação Ferroviária.  
A inciativa de trabalhar com o Plano Piloto de Brasília surgiu do projeto Des-ilha da professora Lívia Flores do PPGAV-UFRJ em que toda semana éramos estimulados a realizar algum trabalho plástico a partir de uma palavra. A palavra escolhida foi “Brasília”, e de imediato lembrei do Plano Piloto de Lúcio Costa e sua frase emblemática “...nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto.”
A relação com a partitura Escola da Velocidade de H.Berens aconteceu pela evidência do nome, pois Brasília é historicamente vinculada à ideia de progresso, uma melancolia do futuro , assim como a Escola da Velocidade de H.Berens que é um exercício “anacrônico”, pois não há mais uma exigência da técnica para se tocar o instrumento, já que o virtuosismo pianístico poderia ter sido substituído pela tecnologia dos programas de computação, como o Note Worth Composer e o Protools.  
A partitura também nos fez lembrar do projeto de Juscelino Kubistchek de fazer 50 anos em 5 anos, o projeto modernista desenvolvimentista que nasceu como uma promessa de não cumprimento, de não realização, de frustração e melancolia.
A primeira página tem a frase emblemática de Thomas Bernardt no seu livro “Náufrago” onde o autor escreve sobre três pianistas que foram estudar em Salzburg com o professor Horowitz: Glenn Gould, Werthemeir e o narrador da história. Um suicídio calculado com grande antecedência, pensei, e não um ato espontâneo. O livro conta a história de três grandes pianistas e amigos, um deles seria consagrado como o maior virtuose do século, Glenn Gould, que faria com que os outros dois adotassem à ciência do espírito, um deles, Wertheheimer se suicida ao final do livro, pois foi levado pela sua insanidade de querer um piano velho, de um desejo nunca realizado.
A relação entre a música e a visualidade dos recortes dentro da partitura que poderá ser executada e é o que mais interessa para o trabalho artístico.
           As segundas imagens do trabalho são intervenções de recortes de instrumentos musicais rústicos, como o alaúde, o violino, o atabaque que entram na partitura para piano, como outros instrumentos a serem tocados na orquestra, pois a partitura só tem as duas linhas do piano, da mão direita e da mão esquerda. Mas essas imagens de instrumentos rústicos entram para ganhar uma dissonância com o instrumento piano que é tradicional, pois estes instrumentos valem mais pela visualidade do que pela parte sonora. Pois o piano é o instrumento com maior possibilidade harmônica, tanto que desde o “cravo bem temperado de Bach ao instrumento orquestrado, o piano se tornou o mais sofisticado dos instrumentos musicais.
                                                   Materiais históricos dissonantes
-Plano piloto de Brasília- 0s treze movimentos correspondentes à arquitetura do Plano Piloto de Lúcio Costa. Brasília nasceu do gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ângulo reto, ou seja, o próprio sinal da cruz.
-O Náufrago do Thomas Bernhardt, começando com a frase do narrador.
-Exposição UERJ corredor do Instituto de Artes. Exposição Sentidos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.
-Sem intenção pré-concebida, a pluma que desliza para escrever, ou o lápis que desliza para desenhar alinhava uma substancia infinitamente valiosa.
-Ilhas (recortes redondos que se assemelham às notas)
-Sarkozy (Questões de guerra)
-Daniel Senise (pintura-estrutura), para evidenciar questões da pintura.
-Jesus da Coluna e Cosme e Damião.
-Beethoven “es muss sein?”Tinha que ser?
-Recorte de instrumentos rústicos, alaúde, atabaque, agogô, tamborim e pandeiro.
-Chá de camomila.
Os materiais históricos dissonantes fazem parte do projeto dos Jogos de Temporalidades Inconciliáveis.